segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

espero por ti


Amanhecer do dia 26 de Outubro de 1991. Uma manhã como tantas outras em que o sol brilhou anunciando um dia feliz, os passáros cantavam melodias de ontem e voavam pela cidade até à janela do meu quarto!
Como todos os dias, quando me levantei fui ao quarto da minha mãe que tem sessenta e sete anos e está gravemente doente. Mas isso não é problema para ela, não é um cancro que afecta a sua beleza nem lhe tira o brilho do olhar.
A minha mãe já estava acordada, mas o seu olhar estava triste. De imediato lhe deu um beijinho ternurento que só as mães sabem compreender. Mas, nem isso fez com que ela ficasse mais feliz.
- Mãe o que se passa? Precisa de alguma coisa? - perguntei eu, com o coração nas mãos. Sentia que a minha Mãe se estava a perder.
- Estou fraca minha filha, mas daqui a pouco passa. Vai lá arranjar-te, o trabalho espera-te.
Despedi-me e fui rapidamente vestir-me e à saida peguei num pão e fui a comer pelo caminho.
O trânsito estava em alta como em todas as manhãs na cidade de lisboa. Mais minuto menos minuto cheguei ao trabalho.
Neste momento estou a trabalhar numa revista cor-de-rosa como jornalista. E como devem imaginar, a minha vida não é nada fácil. Tenho de escrever sobre tudo mesmo que isso vá contra os meus ideais, tenho de saber da vida de meio mundo e nem sempre o que escrevo é verdade, mas é o meu papel. Quanto mais verídica parecer a matéria a trabalhar, melhor é a noticía que vou escrever, mais as pessoas a comprar e mais lucros para a revista. Sim, eu sei que isto é errado. Mas é assim que eu ganho a minha vida e é assim que eu sou feliz. Não a ser jornalista de uma revista cor-de-rosa, mas a escrever, a ser jornalista!
O meu Pai foi um grande jornalista e a minha Mãe foi professora de Língua Portuguesa e como filho de peixe sabe nadar, eu não podia fugir muito à regra. Costumam dizer que as letras correm-me nas veias.
Por falar no meu Pai e na minha Mãe, parece estranho dizer isto, mas eles estão separados!
Um dia, uma discução sem sentido nenhum fez com que o meu Pai saisse de casa. Mas não para muito longe, se um apanhar o comboio em menos de meia-hora estou lá.
Nunca entendi porquê que estão separadas. A minha Mãe ama-o e o meu Pai nunca quis que isto acontesse-se, ele ainda a ama. Infelizmente o orgulho deles está sempre a trabalhar e torna-se mais forte que o amor, o que os leva a nunca darem o braço a torcer, a nunca mais voltarem um para o outro. Talvez seja melhor assim.
Hoje a revista está um pouco parada, não há nada que nos chame a atenção para uma boa noticía para além de que a revista desta semana sai manhã e já está pronta. Mas é sempre bom estar atenta aos últimos passos dos famosos para ver se podemos inventar uma mentirinha piadosa para não sermos obrigados a pagar indeminisações, não é isso que se quer!
Está na minha hora de almoço e hoje combinei com o meu Pai que depois de almoçar o iria visitar. Vou comer uma sande que a Conceição, a empregada lá de casa que práticamente me viu nascer, me preparou. Enquanto isso, vou caminhando para o comboio. Não fica muito longe do café portanto posso ir devagar e aproveito para ver se algo me chama a atenção para dar continuidade à história do meu livro. Desde pequena que adorava escrever um livro e a doença da minha Mãe fez-me criar uma história que eu quero que vá para a frente e que me leve a editar este livro.
Chego a casa do meu Pai e como sempre ele está na janela a olhar o céu, como se esperasse que a qualqeur momento algo o venha buscar ou até mesmo que lhe digam qual é o proximo passa. Não notei que estivesse mal e tivemos um almoço perfeitamente normal e igual a tantos outros. Sempre com as suas piadas e a sua forma carinhosa de me fazer sorrir.
Quando cheguei à revista recebi um telefone da minha empregada para ir para casa porque a minha mãe se estava a sentir mal. Nem pensei em nada, peguei nas chaves do carro e fui logo para casa.
Quando cheguei, a minha mãe nem parecia a mesma. Estava com um ar cansado, com um sorriso palido e um olhar perdido. Sentei-me no chão e perguntei-lhe:
- Mãe, o que sente?
E ela, sem muitas forças respondeu-me:
- A minha hora está a chegar, não tenhas medo de me deixar ir!
As lágrimas invadiram o meu olhar mas eu não fui capaz de chorar. Mantive-me forte e fui ter com o médico que já lá estava, para saber qual era o diagnóstico.
- A sua Mãe teve um recaida e o seu estado de saúde agravou. Lamento dizer-lhe isto mas não há nada a fazer, a senhora sua Mãe tem poucas horas de vida.
Ao saber isto fui para a beira da minha mãe, fiquei sentada ao lado dela a contenplar a sua beleza e a ver como ela se deixava ir suavemente de minuto em minuto!
Eis que de um momento para o outro, passadas algumas horas, abre os olhos e me diz:
- Filha, a minha hora chegou. Sei que vais ser forte e te lembrarás que e estarei contigo em toda a tua vida. És muito inteligênte e eu sei que mais cedo ou mais tarde vão reconhecer o teu valor!
- Mãe, eu vou sempre lembrar-me de si. A Mãe é a minha guardiã, obrigada por tudo o que me deu e me ensinou.
- Minha querida, a hora chegou e eu sinto que tenho de ir. Antes de partir só quero que me faças um favor, diz ao teu Pai que está desculpado por tudo o que fez, que eu ainda o amo muito e que estou à espera dele no céu!
- Não se preocupe Mãe, eu digo! Vá em Paz!
- Amo-te minha filha!
E num misto de sentimento, fechou os olhos como quem adormece e partiu para o outro Mundo.
Saí do quarto, dei a noticia e disse que ia ter com o meu Pai.
Peguei no carro e fui a grande velocidade ter com ele. Quando cheguei ele não estava na janela, o que foi de estranhar. Entrei em casa e fui até ao escritório e lá estava ele entretido a ler o jornal.
- Pai, tenho uma noticía para lhe dar!
- O que se passa filha? Conta-me!
- A Mãe partiu deste mundo e pediu-me que lhe disse-se que estava desculpado por tudo o que tinha acontecido, que o amava muito e que estava à sua espera no céu!
O meu Pai começou a chorar e foi-se fechar dentro do quarto. O que ele mais queria era ir ter com a minha Mãe.
Voltei para casa e pedi à dona Guilhermina que fosse tomando conta do meu Pai.
Quando cheguei, já tinham levado a minha Mãe para a morgue e eu fui trocar de roupa para ir para lá. Demorei uma hora a arranjar-me e quando estava a sair de casa recebo uma chamada da dona Guilhermina.
- Sim, sou eu Guilhermina. O que se passa?
- Menina, não sei como lhe dizer isto, mas o seu Pai foi ter com a sua Mãe!
E eu, como uma criança que fica sem brinquedos e começa a chorar desalmadamente, desliguei o telefone e perguntei a mim mesma porquê isto!
Mas apesar de tudo fiquei feliz, porque o meu Pai tinha partido sem qualquer doença, somente por amor! E tenho a certeza que onde quer que eles estejam estão felizes e a viver os anos que não estiveram juntos.
Afinal de contas, um grande amor nunca se esquece, nunca se perde!

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Voltaire