domingo, 13 de fevereiro de 2011

Lembranças!



Saudades.
Avó. Avózinha. Minha segunda Mãe.
Fala comigo, desabafa a tua dor!
Já se passaram tantos anos e ainda sinto o último dia como se fosse hoje.
Tenho o coração apertado, choro como uma criança.
Estavas tu e eu naquela madrugada ainda tão acesa. Fiquei ao teu lado a noite toda. Ouvi-te falar sobre histórias que o tempo desconhece. Consigo ver nitidamente os teus olhos verdes transparentes e brilhantes e nós as duas a desabafar. Tu a contares-me das tuas tristezas, das tuas felicidades e dos amores não correspondidos!
Acordadas no tempo, pela insónia da dor. eu virada para o lado contrário a fazer de conta que dormia, enquanto ouvi as tuas palavras ainda quentes e o teu grito que pedia que te levassem dali.
A tua dor foi apenas a de deixar os netos desamparados na estrada da vida e uns filhos já crescido sem colo e a certeza de um amanhã.
Coragem de uma lutadora.
A sua vida caminhava pelo já curto destino que se encruzilhava no fim da linha. o seu corpo já pedi recarga e o seu cérebro estava gasto dos problemas que a dura vida lhe ofereceu.
Mas todos os dias a sua alma se dirigia para a mesa, onde tomava o pão e o vinho com a sua já pequena e única família. onde ainda partilhávamos o que nunca nos tiram.
Podia faltar o pão e o leite. mas havia sempre amor!
Mesmo que faltassem os melhores condimentos na ceia de natal ou no almoço de pascoa, os sentimentos estavam sempre connosco. Eles nunca faltavam.
A nossa última refeição foi concebida.
Oh, como me lembro que aquele vinho foi como o seu sangue para mim!
Não haviam mais forças, as suas pernas já não aguentavam o peso do corpo e o seu cérebro pedia o fim.
Mas os eu coração continuava vivo!
Ela deitada na cama eu ao seu lado.
Pediu-me que não a deixasse e que naquela longa estrada a levasse ao colo. Já não tinha também eu forças para a segurar. Criança. Frágil. Só.
Sete dias antes festejamos a sua partida.
Como já era de rotina cuidou de mim para ir para escola. Preparou-me o lanche, fez-me a trança e deu-me o tão adorado beijo de avó.
Foi lindo. Foi duro. Foi triste.
Semana dolorosa que adivinhava que algo estava para acontecer!
Ajudei-a a vestir-se, coloquei-lhe o batom transparente, dei-lhe o meu beijo.
As suas palavras estavam sufocadas.
Sei que foi para o hospital naquela hora.
Chamou por mim e eu ouvi.
Não fui.
Tristeza!
Apenas queria despedir-se de mim. vaidade de avó, pressentimento do coração.
Teimosia de neta, pressentimento de jovem.
A uma hora incerta a sua alma foi levada deste círculo.
No caixão que não vi, a sua face estava tão linda!
Parecia que entre o nada sorria.
Enfim, foi como um estrela para parte incerta, para a beira do seu marido e de seus pais.
Deixou comigo a saudade de uma bela mulher, de um suporte.
Deixou a sua coragem, a sua felicidade, a sua luta!
As suas histórias, a sua fé.
E eu, a cama, a madrugada, o cheiro, os sonhos, a criança que já não sou.
Avó,
Mãe,
Amiga,
Companheira,
Colega do destino,
Minha estrada!

5 comentários:

  1. está lindo. força querida <3

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  2. Onde quer que ela esteja, estará sempre a olhar por ti e a dar-te toda a força que necessitas para ultrapassares sempre mais um dia da tua vida. Força ! Beijinho

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  3. isto, está fantástico.

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  4. Anónimo2/14/2011

    que coisa mais linda querida<3

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Posso não concordar com nenhuma das palavras que tu disseres, mas defenderei até à morte o direito de tu as dizeres.
Voltaire